Um Raríssimo Concerto Feminino

 
Em Recife, no dia 18 de dezembro de 1972, a pianista Graciete Câmara Quadros entrava no palco do Teatro Santa Isabel, acompanhada do maestro Mário Cãncio Titular da Orquestra.Sinfônica de Pernambuco, para a primeira audição mundial do Concerto para Piano e Orquestra, em Lá-maior de Najla Jabor, compositora carioca de inestimável conhecimento musical.

Ela é a primeira mulher brasileira a compor um Concerto para piano e orquestra.

O fato importante é que quase não existem compositores femininos, dedicados à música erudita, que tenham obra de tamanha envergadura. Najla compôs o solo e toda a parte orquestral. Compôs ainda outras obras sinfônicas.

Não conseguiu apresentar o seu Concerto no Rio de Janeiro, por falta de sensibilidade dos maestros locais. Encontrou-a na apurada classe do Maestro Cãncio e na envergadura musical de Graciete Quadros, uma pianista de muita técnica e classe suficiente para superar os obstáculos que impediam a apresentação da peça.

O Concerto de Najla Jabor tem três movimentos vibrantes Allegro Maestoso, Adagio Molto Legato e Allegro Scherzoso com uma surpreendente participação orquestral, principalmente no primeiro movimento, inspirada em Rachmaninoff. As oitavas mostram sua dificuldade de execução, porém a melodia-tema é atraente e permite que o solista mostre seu virtuosismo Graciete Quadros nasceu em Recife. Foi aluna de Manoel Augusto dos Santos, no Conservatório Pernambucano de Música, a quem, segundo ela, deve o seu amor ao piano e a maneira atraente como consegue tocar qualquer obra de grande mestre. Tem o título de Compositora Erudita, pela Ordem dos Músicos do Brasil.

Ainda hoje, já com a certidão de idade amarelecida pelo tempo, seus dedos ágeis transformam Chopin, Schumann, Mozart, Mendelssohn , Júlio Braga e suas próprias composições em enlevo para quem as ouve.

Como prêmio à sua dedicação, recebeu de presente todo o acervo de partituras musicais do professor Braga, depois de seu falecimento, guardando-as com carinho em pastas, por ordem alfabética. O acervo é importantíssimo material para pesquisa da música erudita, regional e folclórica nordestina.

(Cortesia Jornal da ABO-RJ – Out. 2002).