São Paulo: 450 Anos

 
Era janeiro de 1954, em pleno dia 25.
A cidade estava em festa, com sua população quatrocentona.
Havia bondes “camarão” e novos ônibus elétricos. O Ibirapuera começava o tomar ares de parque civilizado. De longe era possível ainda enxergar o edifício do Instituto Biológico. A bela Estação da Luz recebia os trens do interior, com regularidade. A estrada Anhangüera estava sendo completada. Havia ainda uma profusão de carrinhos europeus importados: Renault Juvaquatre, Ford Anglia, Ford Prefect, Hilman ,Austin, Morris, Skoda, Fiat Pulga, todos econômicos em seu consumo de gasolina.
À noite, numa festa original, holofotes iluminaram pequenos triângulos de papel de estanho jogados por avião, que cintilavam no céu de verão.
Existia a Drogadada, famácia perto do Teatro Municipal. A Rua Marconi era o luxo da época. Estava aparecendo o café italiano sob pressão, o “crema café naturalle que funziona senza vapore”, hoje expresso, como é conhecido mundialmente. Comia-se Dan Top e tomava-se o produto paulista mais recomendado: o caldo de cana com limão, na Praça da Sé.
A grande inauguração ali foi a Catedral.
50 anos se foram com a volúpia do tempo.
O trem sumiu, o Viscount da VASP ficou ultrapassado. No lugar do bonde apareceu o dígno Metrô. Sob o Anhangabaú foi feita impressionante passagem. As margens dos rios viraram avenidas fundamentais. O buraco da Rua Galeno de Almeida se tornou habitável. Completamente diferente é hoje a Praça Clóvis Bevilacqua, mas ainda existe aquela insinuante ladeirinha junto à Rua Líbero Badaró. Não existe mais o Cinema Excelsior com seus tapetes de luxo na sala de espera.
A Rua da Consolação se duplicou e acabou com o barbeiro “O Doutor dos Bigodes”.
São Paulo, mudou, pois era necessário acompanhar o seu crescimento.
Sua força de trabalho e cultura estão à mostra na grandiosidade da Cidade Universitária, no MASP, no Instituto Butantã, no Museu da USP, na Biblioteca Mário de Andrade e no movimento frenético de seus habitantes.
A Igreja da Consolação é um verdadeiro cartão-postal, assim como o Edifício do Banespa, marcas características de uma época.
A Sé ganhou uma praça mais uniforme. Surgiu a graciosa Moema. Estão lindas as numerosas “árvores que andam”, preservadas em numerosas ruas e praças. Mesmo o Trianon viceja sua vegetação e suas flores.
É, São Paulo. É interessante com o as cidades, ao completarem anos, são ditas como novas, embora tenham mais um cinqüentenário na sua fundação. É um paradoxo realmente filosófico, como remoçar com o envelhecimento... Você ainda é a mesma com o passar dos anos, movimentada, enérgica, problemática, desigual, brava e gentil ao mesmo tempo.

Thales Ribeiro de Magalhães