Tutu Marambaia

 
Essa canção de ninar, que várias gerações ainda cantam carinhosamente para filhos e netos, mereceu uma anotação explicativa em livro de Basílio de Magalhães (1928), ei-la, com pequena adaptações, em homenagem ao “Dia do Folclore”.

O TUTU
Provavelmente oriundo da voz kimbunda kitutú (que quer dizer “papão”, conforme Cordeiro da Matta), o tutu, seja significando o espantalho de crianças, seja designando um mandão ou valentão (ou ameaça de violência), seja, enfim, indicando uma comida comum a maior parte do Brasil, divulgou-se por todo o nosso país, certamente graças a influência africana.

Pelo estudo que dele fez Valle Cabral, em suas preciosas “Achegas ao estudo do folk-lore brasileiro” (Gazeta Literaria”, 1884, págs. 346-350), sabe-se que na Bahia foi corporificado num porco-do-mato (caitetú ou catitú), talvez pela semelhança desse nome tupico com o vocábulo kimbundo. Recebeu, quer ali, quer em outros pontos do Brasil, onde penetrou, vários acréscimos, que figuram em poesias populares, da Bahia (98) e de alhures. Assim é que passou a ser tutú-zambê ou tutú-cambê, tutú-marambaia, tutú-do-mato ou bicho-do-mato. Bicho, com efeito, no mais restrito dos seus sentidos de aplicação a seres fantásticos, é sinônimo de tutú.

A adjunção de zambê a tutú parece evidenciar a aliança deste mito com o de zambí ou zumbí (pronuncias mais generalizadas que as de zámbi e zúmbi, mais consoantes com os etymos kimbundos). Terá concorrido para isso o episódio dos Palmares, cujo protagonista final era conhecido, do mesmo modo que os seus antecessores, por aquele apelativo angolense? É perfeitamente crível, pois que o fato histórico ocorreu na segunda metade do século XVII.

(Ref.: Magalhães, Basílio de – V Mythos Secundários – Geraes e Regionaes – "O Tutu" in "O Folk-Lore no Brasil", Rio de Janeiro, Livraria Quaresma, 1928 – p. 93-4).